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Duas versões de uma história: BO alega risco suicida e delegada fala em assédio

por AMAFMG Agentes Fortes

Três boletins de ocorrência relacionados ao caso no bairro Ouro Preto, em BH, foram registrados

O Boletim de Ocorrência (BO) referente ao caso da delegada Monah Zein, que ficou mais de 30 horas trancada no próprio apartamento no bairro Ouro Preto, região da Pampulha, em Belo Horizonte, foi qualificado como “salvamento de suicida”. O documento foi aberto às 8h40 desta terça-feira (21) e, até o início da noite desta quarta-feira (22), ainda não havia sido finalizado.

Outros dois boletins de ocorrência relacionados ao caso foram abertos. Um deles pela própria delegada, que abriu o registro por lesão corporal. Contudo, a policial não preencheu o campo de descrição do documento, que não foi finalizado. Um terceiro registro foi feito pela mãe da delegada, que mora no Paraná e viajou para Minas Gerais para acompanhar a situação envolvendo a filha.

No registro, a mãe da delegada reforçou a versão que a filha postou nas redes sociais, em meio às mais de 30 horas de negociação. A delegada afirma que sofre perseguição e assédio na instituição. Também disse que os policiais que tentaram conversar com ela estavam armados e com escudos. Ela também afirma que só atirou, “por instinto”, nos agentes após ser atingida pelo disparo de uma arma não letal.

Equipes da Polícia Civil foram mobilizadas para o condomínio onde a delegada mora no bairro Ouro Preto — Foto: Bruno Daniel / O TEMPO

Versões

A reportagem de O TEMPO teve acesso com exclusividade ao documento feito pelas forças de segurança. O boletim narra com detalhes como teria se dado a chegada das equipes na residência, a presença da Polícia Civil, parte do processo de negociação para a entrada no apartamento da delegada, que teria aberto a porta da moradia com uma arma em punho.

“No local constatamos tratar-se de uma policial civil, dra. Monah Zein, delegada lotada na Central Estadual de Plantão Digital, na Cidade Administrativa, prédio Alterosa. Estavam presentes guarnições da PUMA (Polícia Unificada Metropolitana de Apoio), psicóloga, assistente social e uma enfermeira do ambulatório médico da Acadepol. Após nossa chegada, em conversa com um delegado presente, foi feita a solicitação da presença da CORE (Coordenadoria de Recursos Especiais), com escudos balísticos e todo aparato necessário a realização do serviço”, diz trecho da ocorrência.

O documento acrescenta que “após várias tentativas de negociações”, a delegada “abriu a porta, com a arma em punho, apontando para os policiais, mandando os mesmos abaixarem suas armas”. “Os policiais da CORE, por sua vez, mandaram a delegada abaixar a arma senão iriam efetuar disparos contra ela”, finaliza trecho do documento.

Versão da mãe da delegada

A mãe da delegada Monah Zein alegou que os policiais adentraram, por volta de 9h, o condomínio mesmo sem uma “ordem superior, mandado ou qualquer motivo que justificasse” a medida. A versão também alega que a policial disse que estava bem e pediu para os agentes irem embora. Depois, outros servidores armados teriam aparecido, com coletes e escudos.

“Um cenário inexplicável. Transtornando os vizinhos e causando constrangimentos, falando pela porta que estavam preocupados com a delegada, que ela precisava de ajuda. Tudo sem cabimento. A delegada não estava doente, apenas com algumas perseguições e denúncias na corregedoria”, afirmou a mãe no registro.

Conforme o relato da mulher, a situação com os tiros teria ocorrido por volta das 14h, quando a delegada “saiu do apartamento armada” e se “deparou com quatro homens escondidos na sua escada de incêndio”, como se estivessem em “uma operação”.

A mãe afirma que a filha estava de pijama e sem colete e que, em determinado momento, um policial atirou contra ela — o disparo teria sido com um teser. “Naquele momento e numa escada de incêndio, com baixa luminosidade, não sabia o que era e, lógico, seu instinto foi atirar contra eles”, diz a mulher no documento. 

“Ela disparou algumas vezes, sem ao menos olhar para onde foi, porque não sabe atirar. Apenas fez para conseguir correr de novo até seu apartamento”, diz a mãe, que também cita um possível temor da filha de que os policiais tivessem ido ao local para “forjar um suicídio”.

Entenda o caso 

A confusão teve início na manhã da última terça-feira (21 de novembro), mas se tornou pública na tarde do mesmo dia, após a policial fazer uma live em seu Instagram mostrando o interior de seu apartamento enquanto negociava com outros agentes, que estavam do lado de fora. Nas imagens, a mulher aparecia, inclusive, portando uma arma que, em dado momento, foi jogada para fora de casa por ela em frente às câmeras.

Monah relatou ainda, durante a transmissão ao vivo, que, às 9h30, colegas teriam ido até a casa dela depois dela enviar mensagens em um grupo dizendo que não retornaria ao trabalho. Depois de conversar com os policiais, ela teria então retirado o interfone da casa do gancho, o que os levou a chamar o Corpo de Bombeiros e a polícia. “Eles não querem me ajudar ,eles querem fazer o cenário onde eu estou louca, doente, armada, perigosa, sendo que não existe isso”, disse a delegada durante a live.

A mulher também admitiu ter atirado contra colegas de profissão. “Quatro homens armados, com escudo, para tirar minha arma? Sendo que eu estou trabalhando normal, eu só avisei que não vou para a delegacia e eles vêm aqui fazer esse transtorno? Fazer eu dar seis tiros na escada de incêndio?”, falou Monah. A informação de disparos dentro da casa foi confirmada no primeiro dia pela Polícia Civil, por nota, mas sem mais detalhes.

Delegada estava de férias

Já nesta quarta-feira (22), depois de toda uma noite de negociação, o porta-voz da Polícia Civil, delegado Saulo Castro, detalhou que a delegada Monah Zein retornaria na terça ao trabalho após um período de afastamento, primeiramente por “questões médicas” e, em seguida, por férias.

“Ela enviou em um grupo dos colegas de trabalho uma mensagem que sugeria algo que pudesse levar uma situação contra a própria saúde dela. Nesse sentido, os próprios colegas do local de trabalho vieram para cá acompanhados dos profissionais do nosso Centro Biopsicossocial, no intuito de acolher a colega e preservá-la”, argumentou.

Ainda conforme Castro, entretanto, a conversa inicial não teria se “desdobrado” como a polícia imaginava. “A colega estava um pouco mais exaltada e, diante desse cenário de crise, a partir dos protocolos, a Polícia Civil julgou necessário chamar a Core, para iniciar essa negociação, para que a gente chegue no desfecho o mais breve possível”, completou.

Denúncia de assédio e perseguições

O advogado Leandro Martins, que está à frente da defesa da delegada, afirmou que a profissional da segurança pública sofreu “perseguições” e “retaliações” no exercício da profissão.

No comunicado, Martins lamentou profundamente o estado de saúde delicado no qual a delegada se encontra momentaneamente. Ele alega que isso é resultado de “perseguições” e “retaliações” sofridas no decorrer dos anos.

Na porta do imóvel, a advogada Jucelia Braz, que também representa Monah, afirmou que sua cliente alega ser vítima de assédio moral por parte da Instituição, o que teria motivado toda a situação. “Infelizmente, é conhecimento de todos os casos de assédio moral que cometem contra os policiais, principalmente contra as mulheres, que sofrem dentro da Polícia Civil, então, vamos tomar algumas providências para tentar acalmá-la e tirá-la de dentro o mais rápido possível”, disse.

Saída em ambulância

Momentos antes da saída da delegada, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) entrou na garagem do prédio. Monah desceu do apartamento acompanhada de policiais, embarcou na ambulância e deixou o condomínio. Vizinhos se reuniram para acompanhar o desfecho do caso. 

A mãe da delegada, que chegou de Curitiba na noite da última terça para ajudar nas negociações, também acompanhou a saída de Monah do prédio. Ao mesmo tempo em que a filha era colocada na ambulância do Samu, a mãe embarcou na parte da frente do veículo. Ela não quis conversar com a imprensa.

Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/duas-versoes-de-uma-historia-bo-alega-risco-suicida-e-delegada-fala-em-assedio-1.3279969

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